quarta-feira, janeiro 31, 2007

Dia da bonita


Deixo gravada aqui uma homenagem à minha bonita, dona dos menores olhos que uma mulher ocidental pode ter. Hoje ela completa 26 e se despede da condição de jovem, de acordo com critérios sociológicos que estabelecem o fim da juventude aos 25 - o que, logicamente, é uma insanidade, já que conheço casos de gente que deixou de ser jovem por volta dos 19, de outros que nunca o foram, e casos mais raros como o dessa menina acima que, muito provavelmente, será jovem pra sempre.

terça-feira, janeiro 30, 2007

Orquestra Imperial ontem


Da esquerda pra direita: Max Sette, Rodrigo Amarante, Thalma de Freitas, Nina Becker e Moreno Veloso. Nasceram para bailar.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Máxima da arrogância:




Atrás de um sujeito arrogante, sempre tem outro sujeito arrogante disposto a colocar aquele no seu devido lugar.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

conto de um ponto só

Ontem à noite minha bonita, fiel companheira sobre quem hei de falar aqui muitas vezes, contava-me que havia terminado de ler o conto A incrível e triste história de Cândida Erêndira e sua avó desalmada, do colombiano Gabriel García Márquez. Lembrei-me de imediato que o livro, cujo título é o mesmo do conto mencionado, possui duas outras histórias – Blacaman, o bom vendedor de milagres e A última viagem do navio fantasma – que são contadas em uma única frase, sem pontos ou parágrafos, por páginas a fio.

Segundo entrevista com o autor, estes contos serviram de embrião para o Outono do Patriarca, uma obra em formato cíclico que se estende por centenas de páginas em bloco, apoiada apenas em vírgulas e travessões e – novamente – sem parágrafos. O Outono foi lançado logo após Cem Anos de Solidão, que rendeu ao autor o prêmio nobel de literatura e criou em milhares de leitores uma expectativa sem precedentes acerca do seu próximo livro. Conforme conta o próprio Márquez na entrevista supracitada, o livro foi um fracasso comercial, com direito a leitores indignados pedindo dinheiro de volta às livrarias. Anos depois, entretanto, tornou-se seu livro mais estudado nas universidades.

Meu interesse aqui não repousa tanto no conteúdo mas sim na forma, uma vez que considero no mínimo impressionante que se consiga desenvolver um enredo sem a pausa para respirar com que nos agraciam os pontos; mas logo percebi que trata-se de um poderoso recurso estilístico, que prende o leitor na história, envolvendo-o de uma forma que julgo original. E assim sendo, resolvi arriscar-me, movido por um desafio em forma de exercício, a escrever uma historieta folhetinesca, de uma tacada só, utilizando qualquer tipo de acentuação e apenas um ponto – o final. Vamos a ela, e espero que, após a leitura, você também sinta motivação para criar seu próprio conto de um ponto só.


***

Ela caminhava a passos largos, com a urgência dos homens de negócios que colecionam compromissos inadiáveis; estava claro que se encontrava absorta em uma história inconclusa, recheada de maneirismos que se naturalizavam na monotonia da relação, e sabia que precisava de um ponto final para aquela relação – entretanto, por mais que procurasse, não achava este ponto final, e agora nutria o medo de ficar condenada a navegar eternamente em águas brandas, sem ter um porto por onde pudesse escapar ou ao menos uma tempestade que trouxesse ânimo e a impelisse a alterar o fluxo cotidiano dos acontecimentos: mensurava neste instante o peso do atrevimento de querer enxergar o óbvio, e como a tranqüilidade de outrora era fruto desta venda que faz com que o conservadorismo e o medo da mudança se sobrepujem à tal busca da felicidade, que tanto almejara quando menina e que agora escorria pelo ralo dos sonhos liquefeitos – mas talvez essa consciência recém adquirida pudesse muni-la de forças para tomar uma decisão, A decisão que iria jogá-la, não sem alguma violência, no campo das incertezas que arrancam o chão em que nos apoiamos e altera o ritmo compassado de nossas funções biológicas – e era exatamente disso que precisava, mas para fazê-lo faltava-lhe a coragem reservada àqueles que se deleitam com as adversidades, sentimento que não fora projetado para pessoas frágeis como ela e, talvez por tudo isso, andava absorta nesses pensamentos rumo ao local onde ele já a esperava, bastando olhá-lo uma única vez ao chegar para perceber que o olhar com que ele a olhava ela já não reconhecia, pois que também ele a olhava com outros olhos e trazia naquele brilho opaco, estranho a ela, a certeza de que já não cabia dizer uma vírgula que fosse, pois o ponto final que procurava sem sucesso agora via nitidamente desenhado naquele semblante, já despido do pudor monótono das paixões extintas, e sem saber exatamente como deveria se sentir naquele momento buscou, simplesmente, entender que apenas lia naqueles olhos já estranhos um certo reflexo daquilo que sentia, e que haviam ambos chegado de comum acordo ao mesmo ponto final, enfim.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

samba ontem, funk hoje

Na minha humilde opinião – e há quem concorde comigo –, ocorre com o funk carioca fenômeno semelhante àquilo que outrora se deu em relação ao samba. Explico:

Quando do prenúncio do século XX, o samba era essencialmente executado e ouvido em uma área geográfica específica – a Cidade Nova, na época conhecida como Pequena África. As casas das “tias” baianas que habitavam esta área se transformavam em verdadeiras escolas musicais, onde negros ex-escravos e seus filhos praticavam uma curiosa mistura do lundu africano e do maxixe europeu, mistura essa que foi adquirindo estilo próprio até consolidar-se como samba.

Indissociável da cultura dos escravos recém libertos, o samba não raro era visto pelas autoridades como “a música de negros e vadios”, o que complicava a vida de qualquer um que perambulasse pela cidade com um violão debaixo do braço. Mesmo na casa das tias, em dias de festa, cabia ao samba apenas o espaço da cozinha e dos fundos, enquanto o choro, dotado de maior prestígio, ocupava a sala de visitas – conforme depoimento de Pixinguinha ao MIS.

No entanto, é consenso entre os pesquisadores do tema que a chegada de Vargas ao poder altera substancialmente este panorama; o projeto de construção da identidade brasileira implementado pelo estadista, e alicerçado pelo mito das três raças que ganhava força com Gilberto Freyre e modernistas como Mário e Oswald de Andrade, alçou o samba à condição de símbolo da tal identidade nacional que era naquele momento forjada. Além disso, a profusão de músicos brancos que iam às casas das tias e aos morros do Estácio para ouvir o samba – muitos residentes da minha querida Vila Isabel, como Noel Rosa, Almirante, João de Barro e Francisco Alves – contribuiu para que este estilo musical tivesse cada vez mais a aceitação e o aval das elites. Hoje, e já há muitas décadas, ninguém estranha que o samba pouse nos olhos verdes de um Chico Buarque ou se reproduza na pele clara de uma Marisa Monte.

Agora vejam bem: o funk, em sua vertente carioca, ou seja, oriundo da mesma cidade, desenvolveu-se majoritariamente em comunidades pobres, e antes mesmo de estampar as páginas dos jornais já movimentava, nos anos 80, centenas de milhares de jovens, notadamente negros, nos diversos bailes espalhados pelos subúrbios do Rio de Janeiro.

Mais de meio século se passou, e é evidente que o contexto histórico, político e social foi alterado; não obstante, continuávamos – e continuamos – a viver a hipocrisia do racismo instituído que associa, na cabeça de muitos, funk, população negra e criminalidade. Na década de 90 o tom não foi diferente: quem vive na cidade – e mesmo alhures – tem vivo na memória o surto de arrastões que se alastrou pela cidade nos idos de 1993, 94, comumente atribuídos a “galeras funk” pelos jornalecos de merda que nos mantêm “informados”.

E quem não conhece alguém que defende a tese de que “funk não é música”? Pois bem: é bom lembrar que o samba, comparado aos outros estilos musicais que eram ouvidos no início do século, era considerado simplificado demais, quase sem base harmônica, muito mais calcado no caráter percussivo e rítmico, ou seja, um tom de crítica deveras similar àquele que ouvimos hoje em relação ao funk.

Entretanto, em que pesem todas as críticas e preconceitos que perduram até hoje em relação ao funk, é fato que, cada vez mais, as elites têm demonstrado interesse pelo “som de preto, de favelado”, como cantam Amilcka e Chocolate. Nas áreas mais nobres da cidade do Rio, não é difícil encontrar academias lotadas de brancos de classe média aprendendo coreografias de funk e danceterias com DJs que tocam estas músicas, assim como não é necessário pesquisar muito para encontrar, nas páginas dos tablóides cariocas, alguma “notícia” sobre fulana famosa da vez que “rebolou até o chão” em alguma boate de 50 reais a entrada.

Cético que sou, no entanto, duvido muito que o funk algum dia alcance o patamar que hoje cabe ao samba, mesmo se for criada um Liga das Escolas de Funk, ou se o Lula lançar uma versão do hino nacional em ritmo de funk, ou mesmo se o Chico Buarque regravar o Bonde do Tigrão – talvez a menos provável das três opções.




Sobre o samba, leia Feitiço Decente, de Carlos Sandroni, Acertei no Milhar, de Claúdia Matos, e O Mistério do Samba, de Hermano Vianna;

Sobre o funk, leia O Mundo Funk Carioca, do mesmo Hermano (se você conseguir achar), Abalando os Anos 90, organizado pelo Micael Herschmann, e duvide de qualquer teoria que diga que o funk é um símbolo de integração social. Um dia escreverei aqui sobre isso.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Porque escrevo?




Escrevo porque sou Bezerra, porque se fosse Xavier, psicografava.

Primeira postagem

Iniciar um blog, ou uma página de orkut que seja, dá um certo trabalho. Não só porque é um saco o absurdo número de informações necessárias, mas também porque, uma vez que estamos falando de nossas próprias vidas, preferências e gostos, há uma tendência em parar para pensar no que vai ser escrito em categorias como "paixões", "interesses", "filmes" etc. E aí, meu amigo, é quando vai para o caralho toda a honestidade.

É claro que os mais vaidosos - pode me botar nessa lista, e aproveita pra se colocar nela também (só pra eu não ficar sozinho, porque nessas horas ninguém assume) - irão gastar preciosos minutos pensando: qual(is) o(s) livro(s) que realmente reflete(m) a minha personalidade, do jeito que eu gostaria de ser visto pelos outros?

Claro, se quero que me vejam como um cara cult, porque não dizer que meu filme favorito é um Truffaut ou um Fellini, que meu livro favorito é um García Márquez ou um Dostoievski, mesmo que tenha gostado mais de assistir Um Morto Muito Louco e de ler uma novela do Sidney Sheldon?

Outros, no entanto, irão pseudo-cagar para essas questões e escrever logo uma bobeira qualquer, uma música do Wando, um livro estilo Sabrina ou um filme dos Trapalhões - o que, obviamente, não faz deles menos vaidosos, pois que desejam ser reconhecidos por "não levar a sério essa besteira de blog (ou orkut)".

Se os perfis são mentirosos, ou no mínimo falseados, então relaxemos, gozemos e sigamos em frente. A intenção primeira de um blog não deve ser a auto-definição ou incensamento próprio, mas unicamente a vontade - quiçá necessidade - de escrever.