quarta-feira, novembro 05, 2008

Aqui não, no Sambapunk talvez

É, amigos, isso aqui anda abandonado mesmo... culpa da vida frenética de cidade grande. Quando posso, tenho escrito sobre música no site http://www.sambapunk.com.br/ , do jornalista Adilson Pereira (que foi editor-chefe da revista Outra Coisa).

Pra quem tiver interesse, seguem os links das matérias que fiz até agora:




Sobre a banda Little Joy, do ex-hermano Amarante e do batera do Strokes, Fabrizio Moretti





Sobre o show da Dave Matthews Band no Rio de Janeiro





Sobre o Libra, novo lançamento nacional da Sony-BMG






É isso.



sexta-feira, setembro 12, 2008

Este blog apóia Evo Morales

Após mais de um mês em silêncio, resolvi quebrar o gelo para dar um toque àqueles que vez por outra passam por aqui: desconfiem de tudo que for dito na mídia oficial sobre a atual e complexa situação boliviana. Para saber o que realmente está acontecendo, procurem meios de informação alternativos, não comprometidos com os interesses elitistas. Lembrem-se do exemplo dos recentes conflitos da Venezuela, cujas notícias que chegavam aqui e alhures eram distorcidas pelos principais meios de comunicação, dominados por grupos de direita empenhados no afastamento de Chavez. Quem não sabe ou não acredita no que estou falando ficará chocado ao assistir "A Revolução não será televisionada" (procurem na internê).


Abaixo, um pequeno texto escrito por Jacob David Blinder para o lutabolivariana@grupos.com.br :


O embaixador estadunidense foi expulso da Bolívia e o embaixador da Bolívia nos Estados Unidos foi chamado pelo Presidente Evo Morales a voltar imediatamente ao país. Paramilitares de direita atacam mercado em Tajita e encontram resistência de camponeses, os mesmo paramilitares atacam gasoduto e bloqueiam parcialmente a remessa de gás para o Brasil. Camponeses pró-Evo Morales bloqueiam as estradas para Santa Cruz e deixam essa província isolada. Forças direitistas incendeiam emissora de TV governista de Santa Cruz...O golpe está em marcha e também uma provável guerra civil como conseqüência ao fato. Se essa ocorrer, haverá a intervenção de outros paises e o conflito se disseminará. E alguns ainda defendem a tese que na Bolívia os Estados Unidos nada tem a ver com isso. É lamentável a posição dessas pessoas! É preciso que todos os brasileiros apóiem a democracia na Bolívia e seu líder legítimo o Sr. Evo Morales Ayma. A vitória desse governante no conflito representará a vitória de todos aqueles que querem uma nova América Latina mais justa e democrática.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Menos um jovem no Brasil

Na última terça-feira, 5 de agosto, alcancei a marca dos trinta anos de vida. Seguindo um dos clichês mais repetidos da humanidade, com a idade vêm as responsabilidades. A enxurrada de tarefas e compromissos, tanto no trabalho quanto no doutorado, estão comprometendo o tempo do qual dispunha para gerenciar este espaço virtual e visitar as páginas dos amigos.


Como adoro escrever, sempre que puder atualizarei o blog, mesmo que sem a freqüência que gostaria. Da mesma forma, dentro das possibilidades, irei fuçar os blogs daqueles cujos textos admiro e nos quais procuro alguma inspiração. E no mais, bola pra frente e força na peruca porque, se a vida é heavy metal, eu sou extreme-death-thrash-grindcore.

terça-feira, julho 22, 2008

Qual deles tem condições de te salvar?

Seis candidatos, um só caminho. Qual deles terá a chave para a sua salvação?



























sexta-feira, junho 27, 2008

A inVEJA é uma merda


Vez por outra recebo algum e-mail (desses que circulam amplamente pela internet) que me identifico a ponto de querer reproduzi-lo aqui. No presente caso, trata-se de um texto atribuído a um aluno da Universidade Federal de Pernambuco. O título da minha postagem é uma paródia da famosa frase do pessoal do Casseta e Planeta (na época em que ainda tinham graça), e expressa bem minha opinião em relação ao nojo de revista que é a VEJA.


Sem mais delongas, portanto, vamos ao texto.





A VEJA E O MEU PAI
*Por Roberto Efrem Filho*


Hoje, dia 10 de junho do ano de 2008, foi o dia em que meu pai cancelou a renovação da Revista Veja. É bem verdade que há fatos históricos um tanto quanto mais importantes e você deve estar se perguntando "o que cargas d'água eu tenho a ver com isso?". Não é nenhuma tomada de Constantinopla, queda da Bastilha ou vitória da Baia dos Porcos. É um ato de pequenas dimensões objetivas, realizado no espaço particular de uma família de classe média brasileira, sem relevantes conseqüências materiais para as finanças da Editora Abril, sem repercussões no latifúndio midiático nacional. A função deste texto, portanto, é a de provar que meu pai é um herói.


A Revista VEJA se diz assim: "indispensável ao país que queremos ser". Começa e termina com propagandas cujo público alvo é a classe média e, nela, claro, meu pai. Banco Bradesco, Hyundai, H. Stern. Pajero, Banco Real, Mizuno. Peugeot, Aracruz, Nokia. Por certo, a classe média – inclusive meu pai – dificilmente terá acesso à grande parte dos bens expostos na vitrine de papel. Não importa. Mais do que o produto, a VEJA vende o anseio por seu consumo. Melhor: credita em seu público-alvo, a despeito de quaisquer probabilidades, a idéia de que ele, um dia, chegará lá.


Logo no comecinho, na terceira e quarta folhas, estão as páginas amarelas da Revista. Nelas, acham-se as entrevistas com personalidades tidas como renomadas e com muito a dizer ao país. Esta semana a VEJA apresenta as opiniões de Patrick Michaels (?), climatologista norte-americano que afirma a inexistência de motivos para temores com o aquecimento global. Na semana passada, deu-se voz ao "jovem herói" Yon Goicoechea (?), um "líder" estudantil venezuelano oposicionista de Chávez e defensor da tese de que a ideologia deve ser afastada para que a liberdade seja conquistada contra o regime "ditatorial" chavista.


Não. Não é que a VEJA não conheça o aumento dos níveis dos mares, dos números de casos de câncer de pele, do desmatamento da Amazônia, da escassez da água e dos recursos naturais como um todo e de suas conseqüências na produção mundial de alimentos. Sim, ela conhece. Não. Não é que ela não saiba que um estudante não representa sozinho o posicionamento democrático de uma nação e que um governo legitimamente eleito não pode ser chamado de totalitário. Sim, ela sabe. Do mesmo modo que conhece e sabe da existência de diferentes opiniões (ideológicas, como tudo) sobre ambosos assuntos e não as manifesta. Acontece que isso ela também vende: o silêncio sobre o que não é lucrativo pronunciar.


Do meio pro final da Revista estão os casos de corrupção. Esta é a parte do "que vergonha, meu filho, quando isso vai parar?" dito pelo meu pai, com decepção na voz. A VEJA desenvolve um movimento interessante de despolitização nesse debate. Ela veste o figurino do combatente primeiro da corrupção, aquele sujeito que desvendará as artimanhas, denunciará os ladrões e revelará "a" verdade, única, inabalável. Com isso, a VEJA confere centralidade à corrupção no debate político, transformando a política em caso de polícia e escondendo o fato de que o seu próprio exercício policialesco é inerentemente político.


No fim, "todo político é ladrão" – menos os do PSDB, claro, todos "intelectuais" -, "política não presta", o que presta mesmo é a Revista VEJA. A Revista é ainda permeada por textos de cronistas e colunistas. Estão, entre seus autores, Cláudio de Moura Castro, Lia Luft e Roberto Pompeu de Toledo. Todos dignos do título de "cidadão de bem", conscientes e responsáveis. Evidentemente, todos de posicionamentos um tanto moralistas e um tanto conservadores. Difere-se deles Diogo Mainardi. Este, conhecido por chamar o Presidente da República de "minha anta" e por sua irreverência desrespeitosa e direitista, escancara a alma da VEJA. Mas não se engane. Não é Mainardi o perigo. São os outros.


Foram eles que meu pai um dia leu com respeito e é aquela auto-imagem que a VEJA quer – como tudo – vender. Sem dúvida a Revista VEJA é ainda mais que isso. Suas estratégias de persuasão vão muito além dos limites deste breve texto. Afinal, é ela a revista mais lida no país, parte significativa de um império da concentração do poder de informar. Seja nas suas "frases da semana", nas quais há de costume as fotografias de uma mulher bonita dizendo bobagem e de um homem-autoridade falando coisa inteligente e importante, seja no fetiche da citação "eu li na VEJA", faz-se ela um dos mais eficazes instrumentos de convencimento a favor da classe dominante.


Meu pai, por sua vez, é um trabalhador. Casado com Fátima, minha mãe, e pai também de Rafael, criou seus filhos com princípios que ele preserva como inalienáveis. Já votou no PT. Já votou no PSDB e mesmo no PFL ("porque foi o jeito, meu filho!"). Opõe-se a qualquer tipo de ditadura (conceito no qual incluía até pouco tempo o governo de Chávez: coisas da VEJA). Já se disse socialista, na juventude. É praticante da doutrina espírita desde menino. Discorda de mim em milhares de coisas. Concorda noutras. É um bom e sonhador homem com quem eu quero sempre parecer.


Hoje, ele cancelou a renovação da Revista VEJA, aquilo que para ele já foi seu meio de conhecimento do mundo, depois de chamar de "idiota" a entrevista daquele herói das páginas amarelas sobre o qual falei acima. Antes, havia criticado fortemente um artigo de Reinaldo Azevedo publicado na Revista, em que Azevedo falava atrocidades sobre Paulo Freire: "meu filho, veja que besteira esse homem está dizendo sobre Paulo Freire". Hoje, ele operou uma mudança nesta realidade tão acostumada à perpetuação do estabelecido. Hoje, para o mundo, como em todos os dias da minha vida para mim, meu pai é um herói.




*Roberto Efrem Filho é mestrando em direito pela UFPE e filho de "Roberto Efrem", a quem dedica este artigo

quarta-feira, junho 18, 2008

Sobre a Contenção

Sexta passada, na defesa da tese de doutorado de um velho amigo cientista político, aprendi que a palavra "contenção" dá nome a uma teoria do diplomata americano George Kennan, morto em 2005. A "teoria da contenção" de Kennan representa a tentativa estadunidense de conter, durante a guerra fria, a "ameaça comunista" que colocava em xeque a liberdade tão arduamente conquistada e defendida pelos americanos do norte (percebem o riso irônico enquanto digito esta frase?).


Para o tráfico de drogas presente no Rio de Janeiro e alhures, contenção é o posto de quem, empunhando uma arma, tem por obrigação deter ou dificultar ao máximo a chegada dos policiais à boca - o que é feito mediante o poder de fogo, "trocando com os hômi". No livro Cabeça de Porco, Celso Athayde e MV Bill mostram como o tráfico carioca já exporta know-how para outras regiões do Brasil, que começam a organizar a atividade criminosa valendo-se do bonde da contenção e dos olheiros (que avisam a chegada da polícia através do uso de pipas e morteiros).


Mas o melhor uso da palavra contenção é o feito por Yani de Simone, a dançarina do cantor de funk Mr. Catra. Contenção não é só mais uma funkeira que rebola, como as mulheres fruta que estampam as capas dos tablóides fluminenses. Ela tem um diferencial. Ela pisca. E vocês podem conferir a Contenção piscando aqui, em estúdio, e aqui, ao vivo.

quinta-feira, maio 29, 2008

Menu Musical


Prato do dia (#4): The Raconteurs



No segmento musical, vez por outra surgem bandas paralelas com qualidade à altura dos trabalhos principais de seus músicos. É o caso do Mr. Bungle e do Fantomas, projetos do alucinado Mike Patton, vocalista da saudosa banda Faith No More.


O caso de The Raconteurs é ainda mais raro: a banda supera, em muito, a banda original do vocalista e guitarrista Jack White. Também pudera: por melhor que seja a capacidade de White de criar excelentes riffs de rock, fica difícil sustentar uma banda de rock com uma baterista descoordenada (caso de Meg White) e sem baixo! Estou falando, claro, do White Stripes – que apesar de ser uma banda meia bomba, possui músicas irresistíveis como Seven nation army e The hardest button to button.


Com o The Raconteurs, porém, isso não acontece. Há guitarras, baixo, bateria e teclados, criando um som rock n’roll bem na linha setentista de bandas como The Who, Doors, Beatles e Led Zeppelin. O Led, aliás, é a referência mais gritante, perpassando as diversas faixas do primeiro álbum da banda, Broken Boy Soldiers, um disco primoroso do início ao fim, que começa com a levada cadenciada de Steady as she goes (que lembra de leve os contrapontos que ouvimos num rock brazuca estilo Los Hermanos) e terminando com Blue veins, um blues arrastado daqueles no estilo Since I’ve been loving you.


O segundo disco, Consolers of the Lonely, lançado recentemente, prova que não se trata de uma banda de um disco só. Também é excelente do início ao fim, e já começa com mudanças bruscas de tempo (coisa que adoro) nos primeiros trinta segundos da música homônima.


Os destaques da banda vão para as músicas Broken boy soldiers e Level (confira aqui), do primeiro disco, e The Switch and the Spur, do segundo. Ouçam e vejam se não tenho razão ao desejar que Jack White desista do White Stripes pra dedicar-se exclusivamente ao The Raconteurs... quem sabe assim rola uma chance dos caras pintarem por aqui?

terça-feira, maio 20, 2008

A esquadrilha contra-ataca




A melhor coisa de reencontrar gente que a gente conhece há sete, oito, dez anos é perceber que, embora a vida tenha mudado, com filhos e casas pra cuidar e novas responsabilidades que a vida insiste em trazer, as pessoas continuam, em essência, as mesmas.

Mais ainda, é impossível não reacender o espírito jovem e descompromissado de outrora quando se revê pessoas que nos remetem ao tempo em que curtir a vida despreocupadamente traduzia a nossa maior preocupação.




quinta-feira, maio 15, 2008

O mal estar do século XXI


Domingo foi dia das mães, e passei a tarde cercado delas, que são muitas na minha família. Foi ótimo conversar e rir com minhas tias e minha dezena de primos, todos mais novos que eu. Um dos tópicos, porém, me deixou bastante assustado: a presença de vários casos de depressão, na própria família e em famílias próximas.


É de fato um panorama assustador. Ouvi histórias de pessoas entrando em depressão dentro do próprio carro, sem conseguir sair pra trabalhar. Pessoas que precisam ligar para maridos/esposas para que estes apóiem a execução das tarefas mais cotidianas, como pagar uma conta ou ir à padaria. Pessoas católicas freqüentando centros espíritas porque já tentaram de tudo. E, claro, todo tipo de “droga legal” (será uma antítese ou um eufemismo?) sendo tomada por pais, mães e filhos, jovens de 20 anos em pesadas dietas de Frontal, Pondera, Apraz, Rivotril, Lexotan e outras tarjas pretas do gênero.


Apesar de até ter despertado certa curiosidade, eu nunca tomei um comprimido desses, nem sei o que é ansiolítico, o que é calmante, o que é produtor de serotonina (talvez uma espécie de ecstasy legalizado?). Contudo, uma conversa com alguns amigos revelou que esse quadro não é tão raro assim. A depressão e o stress, efeitos colaterais do mal estar da civilização moderna, atingem um número alarmante de pessoas.


Digam pra mim: quando foi que ser minimamente feliz ou contente tornou-se uma meta tão inalcançável? Quando foi que a “falta de grana” deixou de ser o problema da classe média, perdendo espaço pra essa nuvem negra que destrói humores e expectativas positivas? Será que as pessoas humildes que trabalham pesado o dia todo, enfrentam jornadas diárias dentro de conduções lotadas e possuem sua cota de problemas domésticos para cuidar têm alguma idéia do que é sofrer de depressão?


Minha irmã deve estar certa: a psicologia é a profissão do futuro. Pelo quadro que vem sendo pintado, em pouco tempo estaremos todos loucos - inclusive os psicólogos.

quinta-feira, maio 08, 2008

Uma nova esperança




Morreu, na semana passada, o químico suíço Albert Hoffman, cuja maior contribuição para a história recente da humanidade foi a descoberta da dietilamida do ácido lisérgico – mais conhecida pelos nomes ácido, doce, cones, microponto, gota, fiote, quadrado, papel, macrobiótico, porongos, bike, filete, selo, trips - ou simplesmente pela sigla LSD. Há exatos 70 anos, durante seus experimentos em laboratório, Hofmann ingeriu acidentalmente uma quantidade de ácido lisérgico e, segundo o texto do Wikipedia, “se viu obrigado a interromper o trabalho que estava realizando devido aos sintomas alucinatórios que estava sentindo”.


Utilizado inicialmente como recurso psicoterapêutico e para tratamento de alcoolismo e disfunções sexuais, o uso recreativo do LSD acabou sendo amplamente difundido pela contracultura americana dos anos 60, fazendo a cabeça de ícones da música como Pink Floyd, The Doors, Jimi Hendrix, Janis Joplin e The Beatles (cuja canção Lucy in the Sky with Diamonds é a referência mais explícita).


Se Hofmann ficou conhecido como “pai” do LSD, o “guru” desta substância foi o Dr. Timothy Leary. Em 1961, Leary recebeu uma grana da Universidade de Harvard para estudar os efeitos do LSD em voluntários, que Leary levava para uma grande fazenda na qual eles poderiam fazer o que quisessem (contanto que preenchessem fichas relatando a experiência que tiveram). Segundo o Wikipedia, “3.500 doses foram dadas para mais de 400 pessoas. Daqueles testados, 90% disseram que eles gostariam de repetir a experiência, 83% disseram ter aprendido alguma coisa ou ter tido uma ‘iluminação’ (insight), e 62% disseram que o LSD mudou suas vidas para melhor”.


Embora refira-se à substância que descobriu como seu “filho problemático” (título de um de seus livros), imagino que Hofmann tenha tomado uma quantidade considerável de ácido, especialmente entre os anos 30 e 60. E isso, aparentemente, não causou efeitos negativos na vida do químico, que morreu no último dia 29 com inacreditáveis 102 anos! Essa história me fez lembrar de Compay Segundo, um dos principais músicos cubanos redescobertos por Ry Cooder para o filme Buena Vista Social Clube, de Win Wenders. Compay Segundo viveu até que os 95 anos, dos quais 90 passou fumando charutos (isso mesmo, o cara começou aos 5 anos de idade, acendendo charutos para a avó).


São casos como estes que me trazem um novo vigor e um brilho emocionado nos olhos, fazendo com que eu continue a ter esperança no futuro da humanidade.

segunda-feira, maio 05, 2008

Bi

Parecia um filme que eu já tinha visto. O jogo começa com um gol do Botafogo - na verdade, um verdadeiro frango do goleirão Bruno, que vinha se achando o último biscoito do pacote depois que fez um gol de falta contra o Coronel à Bolognesa. Este gol entrou pra história como o primeiro de falta marcado por um goleiro do Flamengo, e foi realmente lindo, no melhor estilo Zico, quando o goleiro adversário nem tira os pés do chão (confiram aqui). Ontem, infelizmente, Bruno deu uma vacilada que poderia ter comprometido a vitória rubro-negra, assim como o gol perdido do Ibson. Mas a coisa mudaria de figuria.



Início do segundo tempo, Flamengo perdendo de um a zero, e o técnico Joel Santana resolve colocar Tardelli e Obina, os salvadores do Megão. Obina empata o jogo e Tardelli vira, da mesma forma como fez há três meses na final da Taça Guanabara, contra o mesmo Botafogo. E pra colocar a cereja no bolo, Tardelli leva a bola até a área adversária e passa para Obina fechar o placar: Mengão três a um contra o Botafogo, consagrado bicampeão carioca e, agora, com o mesmo número de títulos do Fluminense. Caso vença o carioca no ano que vem, o Flamengo irá para o penta-tricampeonato carioca e será recordista isolado, com 31 títulos estaduais.



Penso que agora, de alma lavada, um dos nossos mais ilustres torcedores pode esquecer do embaraço sofrido durante os últimos dias e gritar a plenos pulmões:





quinta-feira, abril 24, 2008

O silêncio dos burgueses inocentes



Observe atentamente o quadro acima por alguns instantes, e depois tente responder para si mesmo as seguintes perguntas:


você gostou?
você reconheceu o pintor ou o estilo?
você entendeu?
Se não entendeu, ao menos tentou entender?



A pintura trata-se de uma obra de Pollock, intitulada Um (Number One). Foi pintada em 1948 e inscreve-se na tradição do expressionismo abstrato. Lemos no Wikipedia que Pollock desenvolveu uma técnica de pintura (criada por Max Ernst) chamada de “gotejamento” (dripping), ficando em pé sobre a tela e deixando a tinta pingar para elaborar, a partir dos pingos, uma obra de arte. A não-utilização de cavaletes e às vezes até de pincéis confere uma originalidade ao estilo, e é isso que será reverenciado por críticos e admiradores de arte. Não o conteúdo, mas sim a forma.


A “arte pela arte”, como queriam os poetas parnasianos e simbolistas da França do século XIX, é uma busca do primado da forma, que pressupõe o “distanciamento desinteressado” do espectador. Isto significa não estar preocupado com o que a obra de arte “quer dizer”, mas sim eleger como único objetivo da arte o prazer estético, alheando-se de quaisquer outros fins ou valores.


Esta manobra, obviamente, depende que o espectador disponha dos meios para engendrar este “distanciamento”, através de um lento processo de aprendizado. Mediante a educação artística pode-se reconhecer, por exemplo, que o quadro acima trata-se de um Pollock, ou que trata-se de um quadro expressionista – e este reconhecimento é que irá estimular o prazer estético.


Os indivíduos oriundos das classes baixas, desprovidos deste “capital cultural” (expressão do sociólogo francês Pierre Bourdieu), irão procurar algum significado naquele “borrão”, e não raro emitirão opiniões de repúdio, dizendo que “qualquer criança poderia fazer o mesmo”. Já a maioria dos indivíduos das classes mais altas, detentores do capital cultural mencionado, irão fruir esteticamente do quadro sem necessariamente buscar algum significado – ou seja, sem tentar entender o “borrão”.


E os burgueses médios ou em ascensão? Estes terão a reação menos espontânea de todas, uma vez que desejam marcar sua posição social (que está acima dos pobres) sem possuírem, no entanto, o capital cultural dos que estão no topo da hierarquia social (e por isso mesmo não precisam provar nada pra ninguém). A saída para esta situação é apenas uma: o silêncio.


Em nota do livro A Distinção, Bourdieu irá afirmar: “Às confissões pelas quais os operários diante dos quadros modernos denunciam sua exclusão (“não compreendo o que isto quer dizer” ou “isso me agrada, mas não compreendo nada”), opõe-se o silêncio entendido dos burgueses que, passando pela mesma confusão, sabem, no mínimo, que convém recusar – e, de qualquer modo, calar – a expectativa ingênua de expressão que denuncia a preocupação de compreender”.

sexta-feira, abril 11, 2008

Já vai tarde!

Charlton Heston






No sábado deste último fim de semana o inferno ganhou mais um ilustre morador. Charlton Heston, o famoso astronauta de Planeta dos Macacos (1968), o vencedor do Oscar de melhor ator em 1959 por Ben-Hur, o Moisés de Os 10 Mandamentos, morreu aos 84 anos, depois de um considerável período de hora extra na Terra.


Podíamos render-lhe uma homenagem por sua contribuição nas épicas obras cinematográficas supracitadas, não fosse a nefasta posição política que este ator assumiu junto a uma das instituições mais obtusas dos Us and A: o partido republicano.


A trajetória de vida de Heston não deixa dúvidas: seu coração batia mesmo no lado direito. Segundo o portal de notícias G1, o ator não hesitava em fazer campanha para candidatos republicanos e por várias vezes opôs-se publicamente a medidas políticas favoráveis aos negros e outras minorias. Não é à toa que o conservador John McCain, candidato à presidência dos EUA, referiu-se a Heston como "um líder na vida real".


Mas a maior mancha de sua carreira, creio, foi o apoio ao direito dos americanos de usar armas, postura que defendeu com unhas e dentes enquanto presidiu, por muitos anos, o NRA – National Rifle Association. Sua frase mais famosa, dirigida aos que apoiavam a proibição do uso de armas de fogo pela sociedade civil, era: “From my dead cold hands!”


No filme Tiros em Columbine, documentário de Michael Moore, não vemos a face do ator-herói em cima de uma biga (como em Ben-Hur), mas sim um senhor de idade que adota posturas bastante reprováveis, como visitar a cidade de Columbine para defender o uso de armas, dias depois do massacre no qual dois jovens estudantes mataram 15 pessoas em uma escola, usando espingardas, pistolas e um rifle semi-automático.


Foi ali que comecei a odiar esta figura, razão pela qual celebro o fim do que considero sua militância contra a vida. Finalmente, poderemos fazer o que o próprio Heston nos aconselhou: tirar as armas de suas mãos frias e mortas.

sexta-feira, abril 04, 2008

Menu Musical

Prato do dia (#3) - Mallu Magalhães


Sexta passada aconteceu, aqui no cidade maravilhosa, o show de encerramento do festival Evidente, produzido por Rodrigo Lariú. A grande atração era uma tal de Mallu Magalhães, e o próprio Rodrigo me disse: “cara, sei que é estranho eu te dizer isso, mas acho melhor você nem vir, o lugar tá mais do que lotado e você não vai conseguir entrar”.


Segunda-feira, na reestréia do programa do gordo mais pedante da televisão, lá estava a mesma Mallu Magalhães, que descobri tratar-se de uma paulista que canta e toca violão, banjo, gaita e escaleta. E o mais surpreendente é que estamos falando de uma garota de 15 anos.





Mallu já é um pequeno fenômeno na internet. Seu Myspace (veja aqui) já ultrapassou meio milhão de acessos. O vídeo dela tocando naquele programa que passa de madrugada, apresentado pelo garoto mais idoso da televisão, já foi visto mais de 100 mil vezes. No tal show lotado que perdi - o primeiro dela fora de Sampa -, diretores artísticos e demais picões das maiores gravadoras multinacionais se acotovelavam na primeira fila (conforme amigos me contaram depois). E tudo que ela tem gravado em estúdio, até agora, são as poucas músicas disponíveis na internet, que ela conseguiu gravar com o dinheiro que ganhou no seu aniversário de 15 anos.


Além da idade, o que há de idiossincrático é o fato desta menina de 15 anos, contrariando toda e qualquer tendência teen, ser fã de Bob Dylan, Johhny Cash, Belle & Sebastian, Elvis e Beatles. Enquanto a baiana Pitty, uma “senhora” de 30 anos, canta seu rock moderno para crianças e adolescentes, Mallu encanta adultos que poderiam ser seus pais e quiçá avós, com um repertório inspirado no cancioneiro folk norte-americano. E o faz sem tentar esconder os trejeitos juvenis que revelam tratar-se de uma menina meiga e cativante, que costuma batizar os próprios instrumentos como se fossem bichos de pelúcia e cujo caminho musical ainda tem muitas notas para serem percorridas.









* Destaque para as canções J 1, Tchubaruba (prestem atenção no piano) e para uma versão de Folsom Prison Blues, do fora-da-lei Johnny Cash.

sexta-feira, março 28, 2008

Sobre a propriedade intelectual



Escrevo este texto de supetão, no susto mesmo, pra aproveitar o gancho de uma discussão gerada no site da Rackel (tive que digitar o nome do site no link porque a autora colocou um script que te dá um esporro ao simples apertar do botão CTRL). A discussão, sobre propriedade intelectual, me é muito cara e envolve diretamente boa parte do meu trabalho profissional, que é relacionado a projetos culturais, bem como minha atividade acadêmica.


Primeiramente, quero deixar claro que sou favorável à preservação do direito autoral, no sentido filosófico da coisa. Acho que é não só uma gentileza, mas também uma questão de respeito que, ao utilizarmos obras de outrem, a autoria esteja explicitamente indicada.


Entretanto, isto não significa que tal proteção deva se revestir de uma pesada carapaça, impedindo a livre circulação de criações artísticas, descobertas científicas, técnicas e saberes. Especialmente levando-se em consideração a nossa imersão na lógica capitalista, penso que a circulação destas “mercadorias” artísticas e científicas não pode ficar submetida a interesses econômicos.


Nosso modelo de lei de propriedade intelectual é copiado (como quase todo o resto) do esquema de copyright americano. Segundo a lógica jurídica que rege a lei, se você, por exemplo, estiver rabiscando um guardanapo enquanto divide uma cerveja com os amigos numa mesa de bar, seus esboços já estão, em tese, protegidos pela lei. Se o garçom depois os colocasse na internet, você poderia, em tese, processá-lo por violação de direitos autorais. Existem tentativas de flexibilização desta lei canhestra, mas discuti-las seriamente daria material para uma dissertação de mestrado (o que foi feito, exatamente desta forma, por um camarada meu chamado Tiago Coutinho).


Em que pesem todas as questões ligadas à pirataria, seria contra meus princípios (sim, eu tenho alguns) defender uma postura que incentiva a monopolização dos conteúdos culturais e/ou científicos. Ao contrário, defendo a idéia de que todo conhecimento deve ser compartilhado, epenso o mesmo para as produções culturais. Textos, ensaios, poesias,artigos, músicas, vídeos, tudo deveria ser passível de livrereprodução, porque os vejo como patrimônio da humanidade, que contribuem para o desenvolvimento (cultural, espiritual etc.) das pessoas. Se você não quer que ninguém te copie, então melhor nem divulgar.


É claro que, se o cara usa a minha música pra ganhar dinheiro, ideal seria que alguns miguelitos também pingassem no meu bolso. E mesmo que não haja dinheiro no meio, se copiam o texto de outrem e não dão o devido crédito – porque lhes falta capacidade artística e/ou criativa e, por isso, preferem gozar com o pau dos outros – então eles que sofram suas dores de consciência (caso a possuam), e que sejam eventualmente desmascarados um dia.


Minha conclusão é a seguinte: tudo é referência! Afinal, quem é que faz um trabalho de faculdade sem referência? Quem é que escreve um artigo sem referência? Quem é que faz ciência sem referência? Certa vez, Isaac Newton disse que só chegou aonde chegou porque se debruçou nos ombros dos cientistas que vieram antes dele. E se tais ombros não estivessem acessíveis, será que ele teria brindado a humanidade com suas descobertas sobre ação e reação e as demais leis newtonianas?




* * *


Se você ficou a finzão de se inteirar acerca das alternativas que estão sendo pensadas para o modelo de copyright, vale uma visita ao site do Creative Commons. Até o nosso ministro Gil liberou os direitos de uma música para mostrar seu apoio ao projeto... e, obviamente, esta música não é nem Realce, nem Aquele Abraço e muito menos Vamos Fugir, já que essas são as que realmente rendem um trocado e ajudam a botar comida na mesa, né ministro?

segunda-feira, março 17, 2008

Sobre a vingança

Revenge, vengeance, vendetta. Desde pequeno, aprendi a apreciar filmes cuja temática assenta-se na Vingança. Dos filmes de terror trash com Jason e Freddy Krueger aos filmes policiais trash com Charles Bronson e similares, é o sentimento de vingança que encarna o verdadeiro protagonista, o mote que conduz a ação de heróis e vilões, exercendo, das entranhas à alma, uma dominação sobre a vontade, sobrepujando-se, enfim, a outras motivações (supostamente) nobres como amor ou dinheiro. Pois não há fortuna, vício ou paixão que possam sequer almejar equipararem-se à grandeza da obsessiva necessidade de se concretizar um belo e esquadrinhado plano de vingança.


Não obstante, em matéria de filmes sobre vingança os orientais costumam dar um banho nos americanos, cujas histórias são invariavelmente pueris e não dão conta da profundidade subjetiva desse sentimento. Só o cinema oriental trata disso com maestria. E nesta seara, o maior dos mestres que conheço é o sul coreano Park Chan-Wok.


Embora tenha filmado algumas histórias comerciais, o projeto que Park considera como o mais pessoal é uma série de três filmes sobre um mesmo tema. Sua “Trilogia da Vingança” é formada por Mr. Vingança (batizado em inglês de Sympathy for Mr. Vengeance, de 2002), Oldboy (de 2003) e Lady Vingança (em inglês, Sympathy for Lady Vengeance, de 2005). São três filmes excelentes, com argumentos originais e criativos e uma direção que foge dos lugares comuns tão caros à maneira hollywoodiana de se contar histórias.





Mr. Vingança, o primeiro da trilogia, tem como personagem central um jovem surdo de cabelos verdes que precisa adquirir um rim para sua irmã. Após gastar todas as suas economias no mercado negro, ter seu próprio rim roubado e ser demitido, ele decide apostar na idéia de seqüestrar a filha de seu ex-chefe para levantar uma grana e poder pagar o transplante da irmã. Desgraça pouca é bobagem? Pois piora. Dos três, é o filme com roteiro mais truncado, onde a motivação dos personagens vai sendo lentamente desfiada.






OldBoy foi o primeiro que assisti dos três (e na verdade a ordem dos tratores não altera o viaduto, já que os filmes não têm qualquer conexão além da sede de vingança dos personagens centrais). Há um ar de mistério perene no filme, que sempre guarda uma nova surpresa, mas o motivo da vingança é revelado logo no início: afinal, imagine ser seqüestrado por sabe-se-lá-quem e sabe-se-lá-por-quê, ser jogado num quarto somente com uma tevê, uma cama e um banheiro, e ser diariamente alimentado sem qualquer contato com os seqüestradores, sem saber quanto tempo permanecerá nesta situação, até ser finalmente libertado - também sem explicações - depois de estar preso no mesmo quarto por... 15 anos? Compreensivelmente, o desejo de vingança será a sua única – ainda que frágil – ligação com a sanidade mental.







Por fim, Lady Vingança é o filme mais fácil de se digerir, por possuir o roteiro mais simples e objetivo: trata-se de uma mulher que é injustamente presa pelo seqüestro e assassinato acidental de uma criança, cujo verdadeiro culpado é o seu marido. Embora não seja tão violento quanto os outros dois (é bom avisar aos mais fracos de estômago que não faltam cabeças, gargantas e até línguas cortadas em Mr. Vingança e OldBoy), este Lady Vingança não deixa de sê-lo, só que de forma mais sugestiva do que explícita, chegando a um final catártico cimentado na máxima “a vingança é um prato que se come frio”.



Não saberia eleger um deles como meu filme preferido, e por isso recomendo que assistam todos, na ordem que quiserem. Mas, antes de concluir este texto, quero deixar claro que, embora seja atraído pela temática, nunca vivi nem me imagino vivendo uma situação que me despertasse tais impulsos vingativos. Nesses casos, faço minhas as palavras de Dostoievski no genial “Memórias do Subsolo”:



“Já foi dito: o homem se vinga porque acredita que é justo. Quer dizer que ele encontrou a causa primeira, o fundamento: a justiça. Isto é, como ele está tranqüilizado por todos os lados, vinga-se calmamente e com êxito, convicto de que pratica uma ação honesta e justa. Mas eu não vejo nisso justiça nem qualquer espécie de virtude; se começar a vingar-me, será unicamente por maldade. Esta, naturalmente, poderia sobrepujar tudo, todas as minhas dúvidas e, de fato, poderia funcionar com pleno êxito em lugar da causa primeira, e justamente por não ser a causa. Mas que fazer se não tenho sequer maldade? O meu rancor, em virtude mais uma vez dessas execráveis leis da consciência, está sujeito à decomposição química. Quando se repara, o objeto volatiliza-se, as razões se evaporam, não se encontra o culpado, a ofensa não é mais ofensa, mas fatum, algo semelhante à dor de dentes, da qual ninguém é culpado, e, por conseguinte, resta mais uma vez a mesma saída, isto é, bater no muro, do modo mais doloroso.”







Pra quem gosta, há uma ótima crítica ao filme Lady Vingança no site Zeta Filmes, que pode ser lida clicando-se aqui.

quarta-feira, março 12, 2008

Princípio de Reciprocidade

Há pouco vi, no telejornal da noite, imagens do primeiro espanhol "inadmitido" em solo brasileiro. Foi em Fortaleza. O oficial, sem fazer a menor questão de sequer arriscar um portunhol, barrou o hispânico em alto e bom cearensês, uma vez que o gringo não apresentava endereço fixo no país - só ficava balbuciando "Jericoacoara". E a autoridade ainda completou: "estamos usando o princípio da reciprocidade e, sem endereço fixo, o senhor não entra no meu país".


Minutos mais tarde, venho até o Absurdos e vejo um comentário da Pati, uma das estudantes que foi (junto a um grande grupo de brasileiros) "inadmitida" na Espanha e, portanto, impedida de chegar ao congresso do qual participaria em Lisboa, pois no meio do seu caminho havia uma pedra - chamada "vôo com escala em Madri".


O episódio canhestro e vergonhoso despertou uma onda de apoio que pode ser lida no blog dela: P.R., 23 anos, 1.5m, terrorista internacional. Lá estão transcritas as cartas de protesto do IUPERJ (instituição onde ela estuda e onde eu já estudei, daí a proximidade da coisa), da ANPOCS (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), da CLACSO (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais), uma Nota do Sindicato dos Sociólogos do Estado do Rio de Janeiro e os textos da própria Pati e do Pedro, outro colega do Iuperj detido por 50 horas pelas autoridades espanholas.




ps - quando acabei de escrever este texto, entrei na net pra procurar uma foto do gringo e vi que mais sete hispânicos foram "inadmitidos" na cidade maravilhosa. Uma pena, porque amanhã vai dar uma praia...

terça-feira, março 04, 2008

Enxugando Gelo?

No filme O Gângster (American Gangster), de Ridley Scott, Russel Crowe interpreta um policial incorruptível que, em dado momento, descobre um milhão de dólares em poder de criminosos. Sabendo que aquele dinheiro seria interceptado e “confiscado” (leia-se roubado) por outros policiais de seu distrito, Crowe tem duas opções: ou fica com o dinheiro para si ou apreende e leva-o à delegacia - sabendo que esta segunda opção queimaria seu filme com os colegas policiais, que no seu lugar optariam por dividir o “ganho” ao invés de reportá-lo às autoridades.


Crowe faz a primeira escolha e passa a ser visto como um idiota metido a herói, e a partir daí perde todo e qualquer apoio da delegacia para suas operações. Sua honestidade, enquanto exceção, só atrapalhou sua vida profissional.


Mais adiante, o personagem de Denzel Washington dirá a Crowe que, de uma forma ou de outra, sendo ele honesto ou não, o dinheiro acabaria sendo desviado e dividido entre seus superiores. Já na prisão, Washington tenta oferecer a Crowe uma soma em dinheiro para se livrar das acusações de tráfico e assassinato, e lembra-o que, ainda que permaneça preso, outras pessoas ocuparão o seu lugar na venda de heroína no Harlem. É claro que Crowe, o certinho, nega o suborno.


A questão aqui é: tentar ser um fruto honesto numa árvore de corrupção é válido ou estar-se-ia apenas enxugando gelo? É possível ser um político probo em um partido corrupto? É possível ser um policial honesto numa corporação desonesta?


Quando traficantes são presos, lemos nos jornais a quantidade de armamento e drogas apreendidas. Dinheiro, nunca. Em muitos casos, os lucros das bocas de fumo estouradas, bem como relógios e outros objetos de valor, são apreendidos pelos participantes da operação, sob o curioso nome “espólio de guerra”. E se fosse você, aceitaria receber sua parte? Acreditaria na história de que esse dinheiro veio de viciado e, portanto, não tem dono? Ou não aceitaria o dinheiro mas teria medo de denunciar os envolvidos, tornando-se portanto conivente?


Todo mundo reclama da corrupção, mas não parece haver um interesse real em combatê-la de maneira eficaz. O cara que reclama do policial desonesto prefere dar 50 pratas pro “seu guarda” do que ter o carro apreendido. Pessoas enchem a boca pra falar de honestidade e de igualdade para todos, mas quem negaria um ingresso especial para furar filas de shows e jogos de futebol?


Pode parecer exagero, mas às vezes tendo a achar que, em muitos casos, a honestidade que se almeja não passa de uma grande hipocrisia. E sem medo de usar o maior de todos os clichês, ouso afirmar: a culpa é da cultura propagada pelo sistema capitalista.

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Só podem estar de sacanagem

Manchete do jornal O Globo de hoje (sobre a recuperação de computadores com informações sigilosas da Petrobrás que haviam furtados):



"Furto na Petrobrás foi crime comum e não espionagem"




Na capa do Jornal do Brasil, lê-se: "Segundo a Polícia Federal, eles (os ladrões) não sabiam que tinham roubado dados sobre o Campo de Jupiter, megafonte de gás que a estatal anunciou ter descoberto em Janeiro".


...



Manchete do Globo online sobre fato ocorrido hoje:


"Sargento da PM é assassinado com mais de 30 tiros na linha Amarela"






Frase extraída da notícia: "Policias do Batalhão de Policiamento de Vias Especiais (BPVE) acreditam que o crime teria sido uma tentativa de assalto, mas por causa do grande número de marcas de tiros no veículo, não está descartada a hipótese de execução" (grifo meu).

http://oglobo.globo.com/rio/mat/2008/02/29/sargento_da_pm_assassinado_com_mais_de_30_tiros_na_linha_amarela-426019778.asp



...



Casca, me diz uma coisa: alguém aí tá achando que a gente é palhaço?


terça-feira, fevereiro 26, 2008

Ditado Flamenguista



Antes Tardelli do que nunca!








Na foto, Diego Tardelli comemora o gol feito aos 46 do segundo tempo,
que deu a vitória (de virada) ao Flamengo, campeão da Taça Guanabara de 2008.






sexta-feira, fevereiro 22, 2008

A liberdade que Cuba lança

Mil reflexões podem ser feitas a partir da saída de Fidel Castro do poder cubano. Mas com tantos discursos que deturpam e prostituem o significado da palavra "liberdade", usada sem moderação pelos candidatos à presidência norte-americana quando se referem ao futuro que desejam para a ilhota embargada, prefiro ficar com o singelo desenho do cartunista Angeli, corroborando a máxima que diz que uma imagem vale mais do que mil palavras:








E tenho dito.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Música e moralidade

- Creio que a música me agrada por sua completa ausência de moralidade. Todo o resto é moral, e procuro algo que não o seja. O moral nunca me trouxe nada que não seja doloroso.


(...)


- Afirmaste certa vez - disse-me um dia - que a música te agradava por ser totalmente destituída de moralidade. Está certo. Mas o que importa é que tu também não sejas moralista. Não há porque te comparares com os demais, e se a natureza te criou para morcego, não deves aspirar a ser avestruz. Às vezes te consideras por demais esquisito e te reprovas por seguires caminhos diversos dos da maioria. Deixa-te disso. Contempla o fogo, as nuvens e quando surgirem presságios e as vozes soarem em tua alma abandona-te a elas sem perguntares se isso convém ou é do gosto do senhor teu pai ou do professor ou de algum bom deus qualquer".




Trechos extraídos do livro Demian, de Herman Hesse.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

O aposentado de Copa

O senhor de pele clara e olhos verde-acinzentados pode ser encontrado no Pavão Azul, local para onde fui levado por minha bonita por indicação de amigos dela. O pé-sujo incrustado em Copacabana oferece o mínimo que se espera de qualquer boteco: cerveja gelada de garrafa e um petisco decente – no caso, pasteizinhos. Cheio de gente, tivemos que esperar uma mesa vagar, e o simpático senhor que bebia sozinho em uma das mesas – vamos aqui chamá-lo de Seu Copa – gentilmente convidou-nos a ocupar as cadeiras vazias.


Naturalmente, não pudemos declinar o convite, nem esquivar-nos do papo que Seu Copa já engatou antes que pudéssemos esquentar os assentos daquelas cadeiras de plástico. Como Seu Copa mencionava antigos presidentes, rapidamente apurei o ouvido na esperança de ouvir histórias interessantes dos tempos de outrora. E mais rapidamente ainda, Seu Copa começou a revelar traços marcantes de seu posicionamento político.


Sempre afável, de fala mansa e pausadamente, Seu Copa desculpava-se por ser uma pessoa antiquada, e dizia que ainda tinha muito que aprender com os novos tempos. Porém, em que pesassem essas revelações, Seu Copa defendia que a miscigenação representava um risco para a integridade das culturas; para ele, uma vez que brancos e pretos (termos usados por ele) se misturassem, tanto a cultura negra quanto a cultura branca seriam diluídas e sairiam perdendo. E concluiu que melhor seria se os brancos ficassem entre os brancos e os pretos entre os pretos, aproveitando para posicionar-se contra o regime de cotas para negros das universidades.


Neste ponto, Seu Copa apressou-se em dizer que não era racista, que inclusive tinha amigos pretos, “alguns até mesmo com doutorado”, e que estes mesmos pretos doutos achavam uma humilhação ter algum tipo de vantagem competitiva (quase pude imaginá-los aplaudindo uma suposta sociedade meritocrática).


Daí pra frente, enquanto as garrafas de Original pousavam em nossa mesa, fui questionando Seu Copa sobre seu passado. Contou-me que era aposentado da FAB (onde meu pai trabalhava como piloto quando nasci) e que viveu os anos da “revolução”, referindo-se ao golpe militar de 1964. Disse-me que, àquela época, teve que fazer uma escolha entre o comunismo de Fidel e a “liberdade que os Estados Unidos traziam”, optando, assim como a maioria de seus colegas, pela segunda opção. Orgulhoso, abriu um sorriso para contar que, hoje, tinha a certeza de ter feito a escolha certa.


Daí pra frente, nossos amigos chegaram e já éramos sete pessoas na mesa – contando com nosso ilustre personagem, que dizia sentir-se muito bem na companhia da juventude e aproveitou para pedir uma farta rodada de pastéis para a mesa, por sua conta. Vendo seu grande interesse por assuntos da política e sua marcante postura em assuntos deste campo, passei a citar alguns personagens da nossa história recente para extrair suas opiniões e impressões. Revelei, por exemplo, que guardava alguma simpatia por Jango, o presidente deposto pelo regime militar. Para Seu Copa, Jango foi “um fraco que se deixou levar” – no caso, pelos ideais socialistas, que realmente não parecem fazer a cabeça do aposentado de Copacabana.


- E quanto a Lamarca, o que o senhor acha dele?
- Esse foi um traidor filho da puta! Não gosto nem de ouvir o nome.
(...)
- E o Che Guevara?
- Um assassino repugnante! Um assassino, um filho da puta!
(...)
- E quanto ao Brizola, seu Copa?
- Odeio! Odeio o Brizola! O Brizola acabou com o Rio de Janeiro por causa dessa simpatia que ele tinha com as favelas.



Não há, garanto, qualquer exagero nas declarações supracitadas. Pra dizer a verdade, fui ficando tão impressionado com o depoimento de Seu Copa que puxei um guardanapo da mesa, saquei uma caneta da mochila e comecei a anotar as frases do aposentado, que saíam pausadamente de sua boca, enquanto aqueles olhos nórdicos sorriam para os convivas presentes à mesa.


À exceção de uns poucos e delicados momentos, procurei não discordar daquele senhor, talvez por estar um pouco cansado deste papel, talvez por acreditar que dificilmente alguma coisa mudaria na cabeça dele àquela altura. E tenho certeza que Seu Copa foi dormir com um largo sorriso naquele dia, feliz por ter passado bons momentos na companhia da juventude.

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Tambores pré-carnavalescos

Alô povão, agora é sério! Carro de som, dezenas de ritmistas, centenas de foliões, muita chuva, trânsito congestionado, cenário caótico... o carnaval chegou às Laranjeiras!


As fotos abaixo são do bloco Imprensa que eu gamo, formado por jornalistas e que há anos desfila pelo bairro. Neste 2008, o dia não poderia ter sido mais apropriado: domingão, 20 de Janeiro, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade maravilhosa do Rio de Janeiro.


A última foto, que tirei da janela de casa, mostra como o bagulho estava frenético. E se a carne é de carnaval, o coração é igual.


















terça-feira, janeiro 15, 2008

Sopros pré-carnavalescos

A tônica deste fim de semana coube a duas bandas de nome grande e com grande diversidade de instrumentos de sopro, indo do grave do trombone ao agudo da flauta transversa, passando por saxofones, trompetes, gaita e clarinete - naipes de metais que anunciam o carnaval vindouro!





A banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju é formada por 10 músicos, dentre os quais um flautista, dois saxofonistas, um gaitista e um trombonista ensandecido, como se vê na foto acima e na foto abaixo, tiradas durante a apresentação dos caras no Circo Voador, sexta passada. Entre levadas de rock, samba e ska, um pé fincado nos ritmos latinos e muita disposição no palco. Impressionante ver centenas de cariocas cantando várias letras de uma banda ainda desconhecida do grande público - um clima que lembra (guardadas as devidas proporções) os shows do Los Hermanos (o som do Móveis tem, inclusive, várias passagens que me remeteram ao primeiro disco dos barbudos da PUC-Rio).








E por falar em Hermanos, o que dizer de uma banda que possui músicos do Brasil, Argentina, Colômbina, Chile e Venezuela, e que tocam ritmos como salsa, cumbia, merengue, frevo, reggae, choro e samba? É simples: mistura com cachaça que fica muito bom.







A banda Songoro Cosongo (que se apresenta sábado no Humaitá Pra Peixe) possui 8 integrantes, mas o bloco de carnaval que leva o mesmo nome e que está ensaiando todos os domingos de Janeiro em Santa Teresa contava, anteontem, com quatro trompetes, quatro saxofones, quatro trombones, uma flauta, um clarinete e cerca de quinze percussionistas, entre agogôs, claves, caixas, alfaias, timbales e tamboras. Foi o primeiro ensaio de bloco do qual participei neste Janeiro - mês que será, aliás, muito curto para abrigar tantos blocos e fuzarcas organizadas para o esquenta do carnaval que, apesar de só começar oficialmente na virada do mês, já parece estar em curso pra muita gente.




segunda-feira, janeiro 07, 2008

A sua segurança é um problema seu

O filme Nação Fast Food, de Richard Linklater, é uma mistura de Super Size Me com Pão e Rosas. O primeiro todo mundo conhece: é aquele documentário no qual o cara resolve passar um mês só comendo produtos vendidos no McDonald’s. Os resultados da “dieta do palhaço” são catastróficos, com destaque para o momento em que o cara, à revelia dos conselhos de seus médicos, diz que prosseguirá com a dieta até o fim. Um dos médicos tenta convencê-lo a tomar pelo menos alguns complementos alimentares, para não descaralhar com sua saúde por completo. E o maluco responde: “não posso, esses complementos não são vendidos no McDonald’s”.


Já Pão e Rosas é um excelente filme do também excelente diretor Ken Loach, cujo roteiro é centrado na imigração ilegal de mexicanos, que vão para os “Us and A” ser capachos dos americanos, atraídos por salários do maravilhoso mundo dos subempregos que, mesmo sendo baixos, superam em muito as cifras pagas na terra natal de nossos hermanos chicanos.


Nação Fast Food toca nestes dois pontos ao mostrar a história de um grupo de imigrantes mexicanos, que cruzam a fronteira ilegalmente para trabalhar na linha de produção dos hambúrgueres que engordarão os adiposos estadunidenses – desde o abate dos bois até a produção dos hambúrgueres em si, passando por todos aqueles processos aprazíveis de tiragem de pele, separação de rins e estômago, drenagem de litros e litros de sangue... uma beleza.


O ponto é que estes trabalhadores recebem 10 dólares por hora, pagos em dinheiro ao fim do dia (U$ 80), enquanto no México (segundo é dito no filme) receberiam algo em torno de “five bucks a day”. O personagem de Bruce Willis, que faz uma ponta de 5 minutos no filme (embora apareça na capa como ator principal), diz que “admira essa gente”, porque são “hardworkers”. Alguém aí acredita que trabalhar nos EUA nesses termos é uma oportunidade de ouro? Bom, como diriam os próprios gringos, think again.


Os mexicanos recebem dinheiro “in cash”. Por serem ilegais, não podem ter carteira assinada ou coisa parecida. E como o trabalho envolve riscos, assistem de tempos em tempos a vídeos sobre segurança no trabalho, que enfatizam que “a segurança depende de você”. Ou seja, os contratantes praticamente lavam as mãos e se esquivam de toda e qualquer responsabilidade ao colocarem trabalhadores não-especializados em contato com máquinas perigosas que ocasionalmente lhes cortam dedos, mãos, às vezes pernas inteiras. E quando algum trabalhador desses sofre um acidente, são feitos testes no hospital para detectar a presença de substâncias ilegais no sangue. Ora, é sabido que muitos destes trabalhadores precisam dobrar turnos e ter dois empregos para pagar suas despesas na “land of oportunity”, o que muitas vezes exige o uso de meta-anfetaminas e outras drogas do gênero. E se a empresa encontra tais drogas no sangue do funcionário, pode demiti-lo sem pagar qualquer direito, sem pagar sequer o tratamento feito por causa de um acidente de trabalho, ocorrido dentro da própria empresa.


E o pior é que nem precisamos ir até o outro lado da América para observar este comportamento. Esta manhã, por exemplo, ao pegar o metrô para o trabalho, ouvi algumas “dicas de segurança” pelo alto-falante da estação, tais como andar com a mochila na frente do corpo, não botar o celular no bolso de trás etc. A mensagem terminava com a seguinte pérola: “cuidar da sua segurança também é responsabilidade sua”.


Quer dizer que até dentro do metrô as autoridades se isentam da responsabilidade que possuem? Quer dizer que a garantia de segurança cabe a mim mesmo? Quer dizer que devo mudar de idéia em relação à minha postura pró-desarmamento, cagar para o postulado weberiano de monopólio da violência pelo Estado e comprar uma 9mm ou uma 380 para assumir minha própria “segurança”?



Essas são as questões que me afligiram durante o dia de hoje. E como este blog é construído com a ajuda dos leitores, queria saber a opinião de vocês em relação a estas questões, aproveitando para fazer uma pergunta que vai de encontro a este tema: vocês concordam com a proposta de algumas associações de moradores de impingir um boicote ao pagamento do IPTU, já que o imposto serviria, entre outras coisas, para o Estado garantir segurança para os contribuintes, função que há muito não consegue exercer?



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